A campanha de multivacinação de crianças a adolescentes menores de 15 anos, iniciada na
última sexta-feira (1/10) tem por objetivo colocar em dia vacinas de rotina que estejam em
atraso. A estratégia é importante neste momento para elevar as coberturas vacinais, que
vinham em queda nos últimos anos, situação que a pandemia acentuou ainda mais.
O alerta da Secretaria da Saúde (SES) é que a baixa na procura dessas doses pode fazer com
que algumas doenças consideradas erradicadas voltem a circular ou aquelas que vinham com
baixos índices aumentem. Em especial pelo momento atual de gradativa retomada das
atividades e retorno desse público às escolas. Sarampo, rubéola e pólio são algumas das
doenças que podem ser graves, inclusive com risco de morte, e que precisam de taxas de
coberturas altas para o risco diminuir.
Ao todo, o calendário de vacinação prevê 14 tipos de vacinas até os sete anos de idade e
outras oito até os 15 anos, fora as que ocorrem em campanhas específicas, como a da gripe
e da Covid-19. Mais de 2 milhões de pessoas no Estado fazem parte desse grupo de menores
de 15 anos.
A orientação aos pais ou responsáveis é que levem as crianças ou adolescentes até a
Unidade Básica de Saúde mais próxima, de preferência com a caderneta ou carteira de
vacinação. No local, um profissional de saúde avaliará se há a necessidade de fazer ou
colocar em dia alguma dose. No Rio Grande do Sul, funcionam mais de 1,8 mil salas.
• Relação de todas as vacinas para crianças e adolescentes.
Sarampo
O sarampo é uma doença causada por um vírus altamente contagioso, transmitida de forma
direta de pessoa a pessoa de forma respiratória ao respirar, falar, tossir ou espirrar. Tem
como sintomas febre e exantemas (manchas avermelhadas pelo corpo), também podendo
apresentar tosse, coriza ou conjuntivite. O sarampo é uma doença grave, principalmente em
crianças menores de cinco anos, pessoas desnutridas e imunodeprimidas, podendo levar à
morte.
Em 2016, o Brasil recebeu certificado internacional pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) da eliminação do sarampo. Porém, devido à série histórica de baixas coberturas
vacinais, o vírus voltou a circular no país e, em 2019, o Brasil perdeu a certificação.
O Rio Grande do Sul não tinha circulação do vírus do sarampo desde 1999. Casos isolados
importados (residentes do Estado que pegaram a doenças em outros países) chegaram a
ocorrer em 2010 e 2011. Contudo, a partir de 2018, apresentou surtos da doença.
Entre 2018 e 2020, o Estado confirmou 185 casos, envolvendo 21 municípios, sem óbitos. Ao
todo no Brasil, no mesmo período, foram mais de 39 mil casos, com 38 mortes.
No Rio Grande do Sul, a maior concentração de casos foi na faixa etária entre dez e 29 anos.
Não há casos confirmados de sarampo desde abril de 2020. Porém, em 2021 o Brasil já teve
(até o final de agosto) 576 casos confirmados e dois óbitos por sarampo, situação que
mantém a Vigilância Epidemiológica do RS em extremo alerta.
Rubéola
A rubéola é uma doença causada por um vírus altamente contagioso, sendo transmitida de
forma direta de pessoa a pessoa ao se respirar, falar, tossir ou espirrar. Caracteriza-se por
febre e exantema (manchas avermelhadas pelo corpo) associada a gânglios (ínguas ou
inchaços, como um caroço) principalmente na região do pescoço.
O Brasil recebeu certificado internacional pela Organização Mundial da Saúde da eliminação
da rubéola e da Síndrome da Rubéola Congênita em 2015. No Rio Grande do Sul, o último
caso confirmado de rubéola foi em 2008.
A infecção por rubéola na gravidez pode ocasionar inúmeras complicações para a mãe, como
aborto e natimorto (feto expulso morto), e para os recém-nascidos, como malformações
congênitas (surdez, malformações cardíacas, lesões oculares e outras).
Pólio
A pólio (ou poliomielite), também conhecida como paralisia infantil, é causada por um vírus,
que pode infectar crianças e adultos por meio do contato direto com fezes contaminadas ou
com secreções eliminadas pela boca das pessoas doentes. Por isso, falta de saneamento,
más condições habitacionais e higiene pessoal precária constituem fatores que favorecem a
transmissão do poliovírus, causador da doença.
A poliomielite pode ser assintomática, mas em casos graves ocorrem paralisias musculares,
quando os membros inferiores são os mais atingidos, podendo afetar também partes do
cérebro que ajudam na respiração, o que pode levar à morte. O último caso de poliomielite
registrado nas Américas ocorreu no Peru, em 1991, e o continente americano recebeu o
Certificado de Eliminação do Poliovírus Selvagem em 1994. No Brasil, o último caso
confirmado ocorreu na Paraíba, em 1989, e no Rio Grande do Sul em Santa Maria, em 1983.
Apesar de o país estar há quase 30 anos sem casos confirmados, o risco de reintrodução da
doença existe, pois o vírus permanece circulando em dois países no mundo: Paquistão e
Afeganistão. Assim, o Brasil se mantém atento ao risco de importação de casos da doença. A
maneira mais efetiva de manter o país sem casos confirmados de poliomielite é o alcance das
metas preconizadas pelo programa de imunizações. Contudo, o país e o Rio Grande do Sul
não estão alcançando as metas de coberturas vacinais há cinco anos, levando a possível
formação de bolsões de suscetíveis e, com isso, o alto risco de reintrodução da doença.
Queda nos índices de vacinação
A chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Centro Estadual de Vigilância em Saúde
(Cevs), Tani Ranieri, explica algumas das razões que podem explicar a queda que o Rio
Grande do Sul e o Brasil apresentam nos últimos anos. “Na medida em que as doenças
passam a não circular mais, justamente porque se mantiveram elevadas coberturas vacinais,
principalmente a partir dos anos 2000, muitas doenças tornaram-se desconhecidas, fazendo
com que algumas pessoas não tenham noção do perigo representado por elas”, diz.
Considerando dez das vacinas previstas até o primeiro ano de idade, em nenhuma delas foi
alcançada a meta de vacinação, que seria atingir pelo menos 95% do público da idade
preconizada nos últimos quatro anos, sendo que em 2020 nenhuma ficou acima dos 90%. Os
dados de 2021 ainda são parciais, pois essas vacinas de rotina têm um prazo de até seis
meses para o município registar no sistema do Programa Nacional de Imunizações.